CAMPO DE BATALHA, BOTIM DE GUERRA, DESCANSO DO GUERREIRO
Instrumento do patriarcado para controle das mulheres, a violência contra elas, reveste-se de superlativa crueldade em contexto de militarização. Exercida pelo Estado, por grupos de homens (ou individuais), por militares e paramilitares, órgãos de segurança (segurança de quem?) e demais instituições patriarcais, atingindo as mulheres em sua sexualidade (estupro), visa desmoralizar o inimigo.
Nas últimas décadas do século XX, nas ditaduras (financiadas pela indústria bélica, bancos e empresários, USAID ...), as mulheres presas políticas sofreram choques genitais e estupros, no Brasil e em outras ditaduras da América chamada Latina.
Por isso, a Ação Internacional 2010, da Marcha Mundial das Mulheres, enfocando o tema da PAZ E DESMILITARIZAÇÃO, denunciou que, em contexto bélico, o corpo das mulheres era tratado como campo de batalha para os soldados (solo inimigo), moeda de troca, botim de guerra, descanso do guerreiro.
No atual contexto de criminalização dos movimentos sociais, no último relatório da Anistia Internacional, faz-se a denúncia sobre as violências de gênero exercidas contra mulheres defensoras dos DH (Direitos Humanos).
Defensora dos direitos das mulheres que foram forçadas a migrar, Cleiner Maria Almanza Blanco (Colômbia) foi violada por membros da segurança e de paramilitares. Em 2010, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos determinou às autoridades colombianas que dessem proteção a ela e mais 13 defensoras, 4 delas várias vezes estupradas. Em 29 de janeiro de 2012, Cleinir foi raptada e novamente violada por um grupo de homens, em Bogotá, denuncia a Anistia Internacional.
Desde 2006 e 2009, a Corte Interamericana de DH ordenou proteção a Dina Meza, jornalista defensora dos DH em Honduras. Integrante do Comitê da Familiares de Detidos e Desaparecidos em Honduras (COFADEH), tem recebido várias ameaças a filhas, filhos e familiares mulheres.
Em 9 de novembro de 2011, Jacqueline Rojas Catañeda (e sua filha de 15 anos), membro da Organização Feminina Popular da Colômbia, foram seqüestradas em Barrancabermeja, amordaçadas e ameaçadas para que denunciassem onde se encontravam o marido e filho de Jackeline. Nas paredes escreveram: filha da cadela. Juan Carlos Galvis, o marido, é sindicalista da área de alimentos e pertence ao comitê da Central Unitária de trabalhadores do departamento de Santander.
Por que as violam, mas não matam? Pilar Rueda, Defensora Delegada para os Direitos da Infância e Juventude, Mulheres (da Defensoria do Povo da Colômbia), responde: “se as matam, tornam-se heroínas. Quando as violam, humilham [...] A violação é um instrumento de dominação e controle da população feminina.”
Oportuna é a denúncia dessas violações dos direitos das mulheres nesse 10 de dezembro, Dia Mundial dos DH, quando nós, da Marcha Mundial das Mulheres estaremos em ação, durante 24 horas, ao redor do mundo, até que todas sejamos livres.
Iolanda Toshie Ide, professora e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Lins, SP.
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